Por Rubens Amador
Jornalista

Entre um homem e uma mulher existe um momento, às vezes, - em que ao se verem pela primeira vez - como que se estabelece uma centelha elétrica - que mexe com a estrutura de ambos. Parece que já se conheciam...Que já tinham conversado antes... Não parecem estranhos... Tudo sugere algo entre eles. Não, não são estranhos um ao outro! Suas vidas já estão comprometidas com outros seres, com quem vivem normalmente; mas mesmo assim há algo entre aqueles dois tão perturbador.

A vida de ambos continua. Só que o pensamento de um, traz, frequentemente, a lembrança do outro. Se estão próximos, procuram ficar mais próximos. Um simples beijo social ocasiona uma vibração intensa. Um roçar de mão ou de braço, um simples toque de pele ocasional, tudo é prazeroso. Nenhum tem coragem de dizer nada sobre aquela situação estranha. E se, circunstancialmente, vierem a sentarem, como já aconteceu-lhes, próximos um do outro, num aparente acaso (em verdade foram cúmplices daquela aproximação) ficam em silêncio; os dois fingem que não estão percebendo nada. Mas ambos sabem, que no íntimo, estão fortemente ligados entre si por uma força estranha. Falam, mas só assuntos outros, que não digam respeito ao que está acontecendo. Mas, como estão próximos, em dado instante o milagre acontece! Seus olhos se encontram e se fixam. E naqueles breves instantes muita coisa linda passa-lhes pelas suas imaginações. É um instante de encantamento mágico! E o fitar de um, continua nos olhos do outro, sem medo de que ninguém esteja percebendo aquela troca de olhares proibidos como se estivessem longe e sós. Até que, como fumaça, os olhares vão se diluindo... se perdendo na realidade; mas aquela conjunção de olhos foi tão profunda, tão marcante, tão inesquecível; que fica por muito tempo na memória de ambos que o evocam sempre que querem reviver um bom instante de suas vidas, cabeças no travesseiro, na solidão da noite. O que seria isto? Já se conheciam de outros planos? Já se pertenceram e se perderam? Quem sabe explicar?